terça-feira, 10 de agosto de 2010

USAR PRESERVATIVO É PECADO?

Caríssimos irmãos e irmãs : hoje gostaria de ter com vocês uma conversa amigável. Somos uma família. Uma família mais unida do que julgam aqueles que não nos conhecem. E na família há esses momentos gostosos de conversa depois do almoço, na varanda, no quintal ou na sala tomando um cafezinho. Desejaria, agora, se vocês me permitissem, entrar no seu lar, sentar-me ao lado de vocês e, num cálido ambiente familiar, ir falando daquilo que me preocupa e que penso ser motivo de preocupação e de perplexidade para vocês, como fazem os irmãos entre si, os pais com os filhos, os filhos com os pais e os amigos de verdade.



É provável que esse nosso encontro se prolongue por um certo. É bom que seja assim. Deste modo, tudo o que gostaria de lhes comunicar, penso, ficará claro e, provavelmente, a partir dessa nossa conversa, vocês sairão mais esclarecidos e se sentirão mais fortalecidos para abordar esse tema com os seus filhos, vizinhos, amigos e irmãos na fé.



Ultimamente, têm aparecido nos jornais, revistas e televisão – inclusive num programa de grande audiência – ataques à nossa grande família que é a Igreja, chamando-a de “retrógrada” e “medieval”, e tratando o Cardeal Alfonso López Trujillo, que trabalha no Vaticano como Presidente do Pontifício Conselho para a Família, de uma maneira afrontosa. Culpam-no, erradamente, de não ter apresentado nenhuma pesquisa sobre a ineficácia dos preservativos. Também por esta razão, vi-me obrigado a citar bastantes pesquisas sobre esta matéria. Trabalhos estes que também são do conhecimento de Dom Alfonso.



Os questionamentos


Alguns meios de comunicação questionam: como é possível que a Igreja não recomende o uso dos preservativos ? Não é este o método mais eficaz para deter o avanço dessa doença que está se convertendo numa verdadeira epidemia endêmica de âmbito planetário ? “A Igreja nega o óbvio”, apregoa a manchete de um importante jornal paulistano ...



Talvez nós, que amamos a Igreja, nos sintamos constrangidos quando o Ministério da Saúde, ou a Organização Mundial da Saúde ( OMS ), expressa opiniões semelhantes.



Vamos, por isso, raciocinar juntos num âmbito familiar . Muitos de nós já enviamos a diferentes jornais artigos e cartas que tentavam esclarecer o problema. Mas ou não os publicam ou os publicam fracionados ou incluídos num contexto que os desfigura. E é por isso que sinto necessidade de abrir o coração e falar agora, sem entraves, à nossa querida família cristã. Esta é a razão de ser desta carta familiar. Num clima sereno, sem polêmicas, irei deixando fluir os meus pensamentos, procurando que prevaleça o bom senso e a ponderação.



A OMS parte de um fato: os costumes atuais não seguem as normas tradicionais, em que as relações sexuais estão destinadas a consumar um amor estável dentro do matrimônio onde, como fruto desse amor, hão de vir os filhos, criados e educados dentro desse âmbito familiar. Isto, porventura, poderia ser considerado como o “ideal” mas – argumenta-se – não podemos viver de “idealismos” , mas de realidades. E a realidade é bem diferente. Os jovens começam a ter relações sexuais antes do matrimônio; muitos não se cansam, e mantêm relações eventuais e transitórias; as moças jovens com freqüência deixam-se levar pelos seus impulsos e sentimentos, não se vive a fidelidade conjugal ... Há, enfim, em não poucos ambientes, um clima de permissividade ou até de promiscuidade, bem diferente de um eventual e teórico “ideal”. E é preciso encarar essa realidade, deixando de lado certos princípios, que estão sendo ultrapassados pelo progresso das ciências e das descobertas dos fármacos anticoncepcionais e dos preservativos. A verdade é que a Igreja está fora da realidade.



Continua-se argumentando: Qual é o método mais seguro, barato e de fácil divulgação ? O preservativo. Mas o preservativo não tem falhas ? Alguns representantes do Ministério da Saúde e da OMS dizem taxativamente que não. Outros, contudo, admitem que elas existem, mas argumentam deste modo: admitamos que os preservativos tenham 10% de ineficácia, mas este risco é muito maior tenham 10% de ineficácia, mas este risco é muito maior quando eles não são usados; então o risco é de 100 % . É por esta razão que recomendamos o preservativo. Um cientista, num importante jornal do Rio de Janeiro, alega que as vacinas contra o sarampo e a pólio também não imunizam 100 % . E nem por isso se pensa na possibilidade de não usá-las ou de fazer campanhas chamando a atenção para isso, sob pena de incentivar a rejeição das vacinas que praticamente erradicaram aquelas doenças.



Estes argumentos parecem tão contundentes que não poucos católicos ficam perplexos. Talvez não cheguem a contradizer abertamente a posição da Igreja, mas ficam com dúvidas ou acuados ou, pelo menos, fragilizados.



Esclarecimentos necessários



Devemos, contudo, ponderar que a Igreja – a única instituição duas vezes milenar – tem razões muito sérias para recomendar que não se usem os preservativos.



Falando-lhes como um irmão – preocupado como estou – que se deteve a estudar esse assunto em profundidade, a fim trazer-lhes um posicionamento seguro a respeito destes questionamentos, quero dizer-lhes que a argumentação antes apresentada – que compara as falhas do preservativo com as das vacinas do sarampo, ou da pólio, por exemplo – não é consistente, por duas razões: a primeira, porque os vírus da pólio e do sarampo não se podem evitar: atacam em qualquer momento, transmitem-se pelo ar que se respira, pela água que se bebe, pelo alimento que se come ou pelo contato habitual do relacionamento social ... A Aids, não: transmite-se fundamentalmente pelas relações sexuais. E ninguém é obrigado a praticá-las com uma pessoa que não se conhece em profundidade, da mesma maneira que se é obrigado a comer, a beber, a respirar ou a relacionar-se socialmente ... A segunda, porque, no caso dos preservativos, a propaganda recomenda o uso como se as relações promíscuas fossem “normais”, inócuas, inevitáveis, ou até recomendáveis. Essa é a feição que têm as propagandas que às vezes aparecem: “aproveite o carnaval, mas use ‘camisinha’”. Aceita-se um pressuposto inadequado – a promiscuidade – e inclusive incentiva-se a mesma : “não se iniba, divirta-se, mas – cuidado! – use ‘camisinha’”.



A propaganda, em geral, não faz nenhuma advertência, não entra em sutilezas, simplesmente incita a usar a “camisinha”, fomentando o que este uso traz consigo: uma relação eventual e insegura. É um meio que, sem dúvida, convida ao desregramento sexual. Desregramento sexual. Desregramento sexual este que traz consigo muitos inconvenientes: o enfraquecimento da saúde e da força da vontade, a perda de um comportamento social e profissionalmente correto, a falta de respeito à pessoa humana e, sobretudo, a infidelidade conjugal e a gravidez precoce, da qual não poucas vezes deriva o aborto.



A mentalidade permissivista pode aceitar-se teoricamente, porém, quando na prática nos afetam pessoalmente, é bem diferente. Pode-se defender o “sexo livre”, mas ninguém aceita que a sua esposa, ou o seu marido, tenha relações com um terceiro. Pode-se, intelectualmente, ser favorável às relações sexuais pré-matrimoniais, mas ninguém gosta de que uma filha de quinze anos fique grávida, ou que um filho de quatorze anos seja pai. O fim bom não justifica utilizar meios perversos. Quem aceitaria montar uma escola para ensinar aos pivetes de rua a roubar sem matar ? Alguém alegaria que o fim é excelente: evitar muitas mortes. Mas os meios utilizados são péssimos.



Evitar o pior não justifica consentir no que é mau. Evitar a Aids é ótimo mas fomentar a promiscuidade é péssimo. Não estaremos utilizando um inibidor para a Aids – o preservativo – que, em última análise, pode se tornar causa desta mesma doença ? Descuida-se a educação dos adolescentes para a efetividade e a vida sexual sadias, lamenta-se o uso precoce do sexo e a gravidez das adolescentes e, de repente, “a toque de caixa”, põe-se nas mãos dos menores um pacote de preservativos como que dizendo: “fique bem à vontade, a ‘camisinha’ garante”. É igual a querer pagar um incêndio com gasolina! E depois chamam de irresponsável a quem dá um grito de alerta.



O “slogan” da “camisinha” que foi anunciado num conhecido programa de televisão é este: “Pecado é não usar camisinha”. É difícil inventar uma tão ardilosa falácia. “Pecado é não usar ‘camisinha’” , mas não é pecado trair a esposa, usando camisinha; não é pecado o desregramento sexual porque se usa “camisinha”; não é pecado deflorar uma menina porque se usa “camisinha”; não é pecado perverter menores incitando-os a usar “camisinha”; não é pecado desfigurar a imagem do Brasil, que tem tantos valores, apresentando-o como o país da libertinagem, das mulheres fáceis, das bacanais de carnaval ...



Se uma campanha gastou tempo para inventar esta “sutileza”, o que poderemos esperar no desenvolvimento da mesma campanha? A Igreja simplesmente aconselha a ter um comportamento decente – porque, não o esqueçamos, a questão consiste em ser simplesmente decente – e deixa a liberdade para que as pessoas tomem a atitude que desejarem: não faz campanha . Não tem milhões para fazer propaganda. Não pressiona a opinião pública dessa maneira. Mas tem que suportar o peso fabuloso que representa para a opinião pública programas de televisão caríssimos. Nós perguntaríamos : quem realmente comete o pecado ? Por que esse interesse em denegrir a imagem da Igreja ? Não será por medo de que a atitude transparente dEla desperte a consciência dos cidadãos? Será necessário gastar milhões para tentar convencê-los : “Não, não há pecado quando se usa ‘camisinha’”. A Igreja não pretende admiração. A Igreja o que pretende é respeito.



As ações que facilitam a propagação de uma doença são eticamente reprováveis. E os atos que desumanizam o sentido da sexualidade são igualmente reprováveis. João Paulo II assim se expressou: “ o uso dos preservativos acaba estimulando, queiramos ou não, uma prática desenfreada do sexo”.



Podemos inibir-nos às vezes, queridos irmãos e irmãs, mas é preciso ter a coragem de dizer as verdades aos filhos, à sociedade e ao Estado; não existe sociedade estável sem família bem constituída; não há família bem constituída sem fidelidade conjugal; e não há fidelidade conjugal sem a educação da afetividade e do sexo, sem autocontrole. E quando não há autocontrole, o que fazer ? A OMS e o Ministério da Saúde advertem: Não é para se preocupar: use a “camisinha” ! A “camisinha” soluciona todos os problemas ... Perguntamos: a “camisinha” protege das crises conjugais, do sexo prematuro tão perturbador para tantos menores de idade, da delinqüência juvenil e das conseqüências naturais da desestruturação do lar ? Sabemos muito bem que a questão não consiste em curar os efeitos; é preciso suprimir as causas. Não se soluciona o problema profilático da água colocando um filtro em cada torneira, mas purificando a água na fonte, no reservatório. Não se encontra o remédio na “camisinha”, mas na mudança de atitude: um verdadeiro trabalho educativo no qual a Família, o Estado e a Igreja têm que envidar os mais vigorosos esforços.



Não, não é com preservativos que se solucionarão os problemas do desregramento sexual, mas com um trabalho profundo que venha a colocar no lugar que merece o valor da vida, do amor, do sexo, do matrimônio e da família.



E é nessa empreitada que está metida a Igreja. A Igreja não nega o óbvio. A Igreja reconhece o óbvio – a realidade – mas esforça-se por superá-la. Talvez seja a única entidade, em nível mundial, que tem a coragem de chamar as coisas pelo seu verdadeiro nome. E talvez seja por essa razão que é tão duramente criticada: a luz alegra os olhos sadios e fere os que estão doentes

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